segunda-feira, 15 de junho de 2009

Teorizando...

Resenha do texto “Consumo e Identidade no Meio juvenil: considerações a partir de uma área popular do Distrito Federal” de Brasilmar Ferreira Nunes
Neste texto o autor apresenta considerações a respeito de sua pesquisa sobre o consumo de jovens realizada na cidade da Estrutural no Distrito Federal, uma área pobre da cidade. Estes jovens que são marcados por esta condição, por um lado são socialmente vulneráveis, por outro, produzem certas resistências que se manifestam em seu comportamento.
Este grupo se encontra num período transitório, não são mais crianças e ainda não são adultos. Apresentam certa homogeneidade conforme o meio social e cultural de sua origem, apresentando certas dimensões em comum, como a situação escolar, sexo, classe social, raça, ausência dos pais, companheiros e amigos. Apresentam também um certo padrão de gosto, se aproximam por critérios de exterioridade, criam seu próprio universo, sofrem influências diversas. Estes jovens passam por um processo de construção identitária.
Não estão inseridos na lógica do mercado de trabalho, porém estão sendo socializados por esta lógica. Devido a dificuldade de acesso ao primeiro emprego, há um prolongamento da fase em que dependem de seus pais, que continuam sendo os responsáveis por seu sustento e segurança material.
Apesar de pouco recurso financeiro, a esfera do consumo é determinante para que sejam inseridos no mundo social, onde o “ter” é mais importante do que “ser”. A questão é ter acesso aos produtos valorizados pelo grupo, os produtos da moda.
Durante as entrevistas, de modo geral, a família foi apresentada como um lugar de tensões, não sendo o modelo de vida visto na TV. Os jovens apresentavam uma auto-imagem negativa e sentimento de inferioridade. São estigmatizados por viverem numa área perigosa e com precárias condições de vida, estando a mercê da própria sorte, pois o Estado não se faz presente.
Entre eles há uma valorização de espaços de consumo como o shopping, que frequentam nos fins de semana. E estando fora de sua área de moradia, tentam não denunciar o local de onde vem se adaptando à moda, consumindo os produtos que esta impõe. Os jovens pobres sentem-se discriminados, e estando em grupo sabem como se portar estando num local “que não seja o seu”, com características em comum, linguagem, expressões, gírias, entonação de voz, postura corporal.
Os estímulos de consumo recebidos através dos meios de comunicação não são processados de igual forma para um jovem da classe pobre e outro da classe média, as raízes sociais contam muito.
Mesmo não considerando que tenham o modelo ideal de família, fazem planos de construir uma. Possuem certos valores tradicionais e sagrados (Deus, família, mãe), devido à forte presença da religião no local, seja pela igreja católica ou evangélica, locais que os fazem pertencer a um grupo cultural. Foi demonstrado que a religião, muitas vezes, oferece “explicações” para dúvidas e incertezas da vida.
Nas áreas mais pobres concentram-se as famílias com maiores dificuldades de acesso aos bens valorizados pelos jovens. E são nestes locais que a qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado é a mais baixa, o que os impossibilita de terem uma estabilidade e a formularem um projeto de vida.
“A incerteza quanto ao futuro gera insegurança e produz, muitas vezes, comportamentos desviantes. A droga, a violência, o menosprezo por valores fundantes, tais como a família e a religião, aprecem como válvulas de escape a esta tensão.” (p.664)

O texto na íntegra pode ser visto no link:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922007000300007&lang=pt