segunda-feira, 13 de julho de 2009

Video do YouTube

Segue um video que retrata de forma irônica os valores, costumes e comportamentos da "classe média". Sendo que alguns destes têm maior relevância, por predominarem nos discursos midiáticos e no senso comum, gerando referências para segmentos não pertencentes a este grupo.

http://www.youtube.com/watch?v=m_LMEu1yh6k&feature=related

Mafalda e a "sociedade de consumo"




domingo, 5 de julho de 2009

INDO À CAMPO II

Esta atividade de campo realizada no dia 30 de junho deste ano, pautou-se na aplicação de questionários em duas turmas do projeto pré- técnico (Curso Preparatório para o 6º ano do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio) da Redes de Desenvolvimento da Maré, que é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), dedicada a articular pessoas e instituições para realizar projetos de desenvolvimento para a Maré, um dos maiores bairros populares do Rio de Janeiro.

Foram aplicados 67questionários com adolescentes moradores do Complexo da Maré
com idade entre 13 e 18 anos, sendo 30 do sexo masculino e 37 do sexo feminino .

As informações e resultados obtidos serão apresentados abaixo:

Faixa Etária:

13 anos – 04 adolescentes
14 anos – 38 adolescentes
15 anos – 22 adolescentes
16 anos – 02 adolescentes
18 anos – 01 adolescente

Renda Familiar:

Até 1 SM – 34,3%
De 1 a 2 SM – 47,7%
Acima de 2SM – 14,9%
Não responderam – 2,9%

Produtos mais consumidos (nessa questão pode-se assinalar mais de uma resposta)

Roupas – 83,5%
Tênis/ Calçados – 47,7%
Livros – 23,8%
Acessórios – 16,4%
Comida – 14,9%
CD’s/ DVD’s – 11,9%
Revistas – 10,4%
Celular – 7,4%
Jogos de videogame e PC – 7,4%
Maquiagem – 7,4%
Outros – 4,4%

Como podemos ver, os produtos mais consumidos relacionam-se a artigos da vestimentária, como roupas, tênis e calçados, mostrando a importância que estes adolescentes dão a imagem que estão produzindo para o outro, ou seja, a sua aparência.
Entendendo a juventude como um processo de formação de sua identidade, calcado na proximidade com o semelhante, busca-se a todo momento, por parte deste indivíduo, o reconhecimento pessoal e social a partir do olhar positivo do outro sobre ele. Caso contrário, este se sentirá isolado e estigmatizado.
E uma parcela significativa gasta seu dinheiro em livros. Percebe-se uma maior preocupação destes jovens com estudo e o seu capital cultural, possibilitando maior acesso às inovações e maior mobilidade entre diferentes projetos que se apresentam num mundo cada vez mais complexo e instável.

Preferência por marcas (Sim ou Não):

Sim – 39%
Não – 41%

Nessa questão, parte significativa dos adolescentes responderam que não tinha preferência por marca, porém acabaram citando algumas marcas.

Marcas mais citadas:
Nike, Adidas, Puma, Billabong, Lacoste, Quebra-Vento, HBS, Aldeia dos Ventos, Playstation, Rainha, Olympikus, etc

Marcas que não condizem com o seu poder aquisitivo, referente a renda familiar respondida anteriormente.

Motivos para preferência por marcas, ou seja, aqueles que responderam ter preferência por marcas (nesta questão pode-se assinalar mais de uma resposta):

“Porque as roupas tem melhor qualidade” – 62,85%
“ Porque eu fico mais bonito(a)” – 20%
“ Porque as garotas ou garotos olham mais” – 11,4%
“Porque são as mais usadas” – 5,7%

Fatores que influenciam na compra da roupa (nesta questão pode-se assinalar mais de uma resposta):

Gosto – 85%
Estilo – 70,1%
Marca – 23,8%
“Aquela que está na moda” ou nos comerciais e propagandas – 11,9%
O tipo de roupa que os amigos costumam usar – 5,9%
Outros – 7,4% ( Cores e preço da roupa e “aquela que modela o corpo”)

Se assistem TV e quais programas:

Sim – 94%
Não – 6%

Programas citados dentre os que assistem televisão:

Jornal/ Noticiários/ Documentários – 47,6%
Programas de humor – 44,4%
Filmes – 38%
Novelas/ Minisséries – 30,1%
Desenhos – 28,5%
Seriados – 23,8%
Programas de entretenimento – 11,1%
Programas esportivos – 11,1%
Reality Show – 4,7%
Outros – 4,7% (Shows, Programas Educativos e musicais)

Como mostra os dados, quase todos adolescentes assistem televisão. Segundo Nunes (2007), a mídia e os meios de comunicação exercem forte influência na valorização de espaços de consumo e entretenimento da classe média, como os shopping centers, reforçando estilos e padrões de vidas a serem seguidos, como é o exemplo de novelas e seriados que são um dos programas mais vistos pelos adolescentes segundo os dados (Ex: Malhação).

Comerciais que chamam atenção para alguma marca ou estilo:
Sim – 43,3%
Não – 56,7%

Comercias citados dentro os que responderam sim:
Coca-cola, C&A, Personal (Papel Higiênico), Melissa, etc.

Meios de acesso ao dinheiro, ou seja, como consegue dinheiro quando quer comprar algo (nesta questão pode-se assinalar mais de uma resposta):

Pede a alguém da família – 85%
Faz um bico/ biscate (trabalho informal) – 11,9%
Trabalha ou faz estágio – 7,4%
Recebe mesada – 2,9%
Pede emprestado – 1,4%
Vende algo usado – 1,4%

Em se tratando de um segmento da sociedade que ainda não está inserido no mercado de trabalho e até mesmo pela condição socioeconômica de sua família (menor poder aquisitivo), surgem limites no acesso ao consumo e à própria expressão de gostos e estéticas. Dessa forma, buscam formas e estratégias, muitas vezes imediatas para viabilizar tal acesso.

Aceitação na comunidade relacionada ao consumo de determinados produtos:

Sim – 38,8%
Não - 61,2%

Motivos alegados para não aceitação ( mesmo sem ter sido perguntando):

“Com certeza, por exemplo, comendo biscoito Fofura, eu me sinto humilhada, já com o Trakinas, me sinto melhor e mais entrosada”

“ Por estar com uma roupa que não estava na moda, por estar com um penteado que não era o ‘da hora’”.

Discriminação por conta da aparência ou estilo:

Sim- 26,9%
Não – 73,1%
Nota-se que grande parte dos adolescentes disse não ter sofrido discriminação. Em relação a esse dado, podemos perceber, sem generalizações, um movimento de afirmação em relação a sua aparência ou estilo, reforçando sua identidade territorial atráves de códigos de sociabilidade.
Motivos alegados para a discriminação (aquele que responderam sim):

“ Quando usei aparelho de coluna”
“Por não estar no lugar certo e a hora certa”
“Por não estar com a roupa da moda”
“Porque sou Playboy”
“Porque me acham diferente, com estilo estranho”
“Porque tenho uns quilinhos a mais”
“ Porque uso preto, roxo, vermelho e gosto de rock”
“ Por causa da minha cor”
“ Por que moro em comunidade carente e têm pessoas que acham quero me sentir riquinho”.

Ao mesmo tempo que estes adolescentes não se vêem (auto-imagem) nas vitrines das lojas, nas propagandas, comerciais e nos seriados e novelas da TV, são vistos nos jornais e noticiários como “classes perigosas” por conta do seu meio social de origem. Dessa forma buscam se diferenciar deste meio, tentando adaptar-se à moda vestimentária e estética ditada pela mídia.

E essa não aceitação não diz respeito somente a sociedade como um todo, mas também se relaciona ao círculo de amizades, que acaba gerando gostos e estilos padronizados, como forma de estar se inserindo num universo próprio, diferenciando-os das gerações anteriores.

Consumismo infantil, um problema de todos

Segundo Signorini (2005, p. 207),vivemos numa sociedade (contemporânea) que é marcada pelo individualismo, pela competição e pelo consumismo, que forjam modos de pensar, sentir e agir, sobretudo em crianças e jovens, segmento etário mais vulnerável nesse processo.
No texto abaixo, podemos perceber a relação precoce que é estabelecida entre criança, mídia e consumo e as consequências trazidas por ela.


Ninguém nasce consumista. O consumismo é uma ideologia, um hábito mental forjado que se tornou umas das características culturais mais marcantes da sociedade atual. Não importa o gênero, a faixa etária, a nacionalidade, a crença ou o poder aquisitivo. Hoje, todos que são impactados pelas mídias de massa são estimulados a consumir de modo inconseqüente. As crianças, ainda em pleno desenvolvimento e, portanto, mais vulneráveis que os adultos, não ficam fora dessa lógica e infelizmente sofrem cada vez mais cedo com as graves conseqüências relacionadas aos excessos do consumismo: obesidade infantil, erotização precoce, consumo precoce de tabaco e álcool, estresse familiar, banalização da agressividade e violência, entre outras. Nesse sentido, o consumismo infantil é uma questão urgente, de extrema importância e interesse geral.De pais e educadores a agentes do mercado global, todos voltam os olhares para a infância − os primeiros preocupados com o futuro das crianças, já os últimos fazem crer que estão preocupados apenas com a ganância de seus negócios. Para o mercado, antes de tudo, a criança é um consumidor em formação e uma poderosa influência nos processos de escolha de produtos ou serviços. As crianças brasileiras influenciam 80% das decisões de compra de uma família (TNS/InterScience, outubro de 2003). Carros, roupas, alimentos, eletrodomésticos, quase tudo dentro de casa tem por trás o palpite de uma criança, salvo decisões relacionadas a planos de seguro, combustível e produtos de limpeza. A publicidade na TV é a principal ferramenta do mercado para a persuasão do público infantil, que cada vez mais cedo é chamado a participar do universo adulto quando é diretamente exposto às complexidades das relações de consumo sem que esteja efetivamente pronto para isso.As crianças são um alvo importante, não apenas porque escolhem o que seus pais compram e são tratadas como consumidores mirins, mas também porque impactadas desde muito jovens tendem a ser mais fiéis a marcas e ao próprio hábito consumista que lhes é praticamente imposto.

(...)


Texto retirado do site:

http://www.alana.org.br/CriancaConsumo/ConsumismoInfantil.aspx

INDO À CAMPO I

Esta atividade de campo realizada no dia 30 de maio deste ano, consistiu numa visita ao Madureira Shopping, localizado no subúrbio do Rio de Janeiro, buscando inicialmente analisar como jovens de camadas populares se inserem e se manifestam nesse espaço de consumo.

A escolha deste shopping especificamente se deu pela sua localização, próximo a dois complexos de favelas (Serrinha e Cajueiro), espaço residencial de segmentos populares, e por ser o maior shopping deste bairro.

Foram realizadas algumas abordagens com grupos de jovens que circulavam pelo shopping ou que ficavam parados em frente as vitrines das lojas observando as mercadorias e aqueles que saíam das mesmas após uma compra ou não. Ao longo dessas abordagens, fazíamos perguntas relacionadas à idade, local de moradia, fonte de renda ou meios de acesso ao dinheiro (formal, informal ou sem vínculo empregatício), como gasta ou utiliza esse dinheiro e preferência por marcas ou não e por quê.

A partir destas abordagens aos jovens, observarmos algumas questões:

Percebemos que alguns grupos de jovens paravam durante alguns minutos em frente às vitrines de determinadas lojas observando detalhadamente cada ícone de consumo ali exposto, os manequins, as roupas, os acessórios, etc. Chamavam também muito a atenção deles, a veiculação de imagens estáticas nas paredes das lojas, com estilos e padrões estéticos a serem seguidos (Ex. Um cara surfando com a “roupa de marca”, bronzeado, musculoso, exibindo uma linda mulher ao lado, etc).

Durante alguns momentos, jovens de grupos sociais e/ou faixa etárias distintas trocavam olhares e observavam como cada um se comportava e que roupas (e marcas) usavam como forma de comparação e disputa.

Observamos também que em grande parte, os jovens ao escolher as roupas que iriam comprar, preferiam aquelas que mostravam a marca de forma mais visível, como forma de ostentação perante o outro e o grupo.

Ao analisarmos as respostas dadas pelos entrevistados, percebemos que o consumo em sua maioria se direcionava a artigos da vestimentária, mostrando a importância da aparência e da estética como forma de se igualar ao grupo.

O consumo de bebidas alcoólicas esteve bastante presente na fala deles. Esse comportamento poderia ser entendido como forma de inserção no grupo social, fomentado pela mídia e meios de propaganda, nos quais são vendidas imagens daquele indivíduo que “se dá bem” e “conquista as mulheres” a partir do consumo destas bebidas.

Alguns jovens durante as entrevistas citaram ironicamente a prática do “155” (furto/roubo) como estratégia para estar consumindo bens de seu interesse. Observa-se aqui, uma naturalização do ato infracional no círculo social no qual está inserido, como meio de acesso imediato aos bens de consumo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Teorizando...

Resenha do texto “Consumo e Identidade no Meio juvenil: considerações a partir de uma área popular do Distrito Federal” de Brasilmar Ferreira Nunes
Neste texto o autor apresenta considerações a respeito de sua pesquisa sobre o consumo de jovens realizada na cidade da Estrutural no Distrito Federal, uma área pobre da cidade. Estes jovens que são marcados por esta condição, por um lado são socialmente vulneráveis, por outro, produzem certas resistências que se manifestam em seu comportamento.
Este grupo se encontra num período transitório, não são mais crianças e ainda não são adultos. Apresentam certa homogeneidade conforme o meio social e cultural de sua origem, apresentando certas dimensões em comum, como a situação escolar, sexo, classe social, raça, ausência dos pais, companheiros e amigos. Apresentam também um certo padrão de gosto, se aproximam por critérios de exterioridade, criam seu próprio universo, sofrem influências diversas. Estes jovens passam por um processo de construção identitária.
Não estão inseridos na lógica do mercado de trabalho, porém estão sendo socializados por esta lógica. Devido a dificuldade de acesso ao primeiro emprego, há um prolongamento da fase em que dependem de seus pais, que continuam sendo os responsáveis por seu sustento e segurança material.
Apesar de pouco recurso financeiro, a esfera do consumo é determinante para que sejam inseridos no mundo social, onde o “ter” é mais importante do que “ser”. A questão é ter acesso aos produtos valorizados pelo grupo, os produtos da moda.
Durante as entrevistas, de modo geral, a família foi apresentada como um lugar de tensões, não sendo o modelo de vida visto na TV. Os jovens apresentavam uma auto-imagem negativa e sentimento de inferioridade. São estigmatizados por viverem numa área perigosa e com precárias condições de vida, estando a mercê da própria sorte, pois o Estado não se faz presente.
Entre eles há uma valorização de espaços de consumo como o shopping, que frequentam nos fins de semana. E estando fora de sua área de moradia, tentam não denunciar o local de onde vem se adaptando à moda, consumindo os produtos que esta impõe. Os jovens pobres sentem-se discriminados, e estando em grupo sabem como se portar estando num local “que não seja o seu”, com características em comum, linguagem, expressões, gírias, entonação de voz, postura corporal.
Os estímulos de consumo recebidos através dos meios de comunicação não são processados de igual forma para um jovem da classe pobre e outro da classe média, as raízes sociais contam muito.
Mesmo não considerando que tenham o modelo ideal de família, fazem planos de construir uma. Possuem certos valores tradicionais e sagrados (Deus, família, mãe), devido à forte presença da religião no local, seja pela igreja católica ou evangélica, locais que os fazem pertencer a um grupo cultural. Foi demonstrado que a religião, muitas vezes, oferece “explicações” para dúvidas e incertezas da vida.
Nas áreas mais pobres concentram-se as famílias com maiores dificuldades de acesso aos bens valorizados pelos jovens. E são nestes locais que a qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado é a mais baixa, o que os impossibilita de terem uma estabilidade e a formularem um projeto de vida.
“A incerteza quanto ao futuro gera insegurança e produz, muitas vezes, comportamentos desviantes. A droga, a violência, o menosprezo por valores fundantes, tais como a família e a religião, aprecem como válvulas de escape a esta tensão.” (p.664)

O texto na íntegra pode ser visto no link:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922007000300007&lang=pt

domingo, 17 de maio de 2009

Iniciando o debate...

Através do presente trabalho, pretendemos analisar as estratégias utilizadas por jovens oriundos dos segmentos populares tendo em vista o acesso aos ícones de consumo, o que para muitos deles significa a possibilidade de efetiva inserção numa sociedade cujo indivíduo costuma ser valorizado por aquilo que possui, em uma lógica mercantil onde o “ter” se transforma em “ser” e a própria cidadania passa a decorrer da correspondência às exigências postas pelo mercado. As contradições presentes neste processo serão desanuviadas, considerando que, embora a tônica presente na contemporaneidade seja a multiplicação ilimitada de necessidades e o incentivo à sua satisfação imediata, poucos são os indivíduos que, efetivamente, podem responder a tais demandas, o que provoca sentimentos de frustração e, especificamente em relação aos jovens, traz implicações nas relações que estabelece com os seus pares e interfere no seu processo de construção identitária. Além da observação de jovens em espaços de consumo e lazer, a pesquisa pautou-se em entrevistas e questionários realizados com jovens em conflito com a lei, cumprindo medida sócio-educativa de semiliberdade no Centro de Recursos Integrados de Atendimento ao Menor (CRIAM), unidade do Departamento Geral de Ações sócio-educativas, situado no bairro da Penha, zona norte da cidade do Rio do Janeiro. Neste espaço procuramos verificar em que medida, estratégias como a inserção no tráfico, o furto e o roubo, assim como a entrada no mercado de trabalho formal como trabalhador pouco qualificado, ou mesmo no informal, são vistas por estes sujeitos sociais como caminhos para o alcance de seus desejos.