domingo, 5 de julho de 2009

INDO À CAMPO II

Esta atividade de campo realizada no dia 30 de junho deste ano, pautou-se na aplicação de questionários em duas turmas do projeto pré- técnico (Curso Preparatório para o 6º ano do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio) da Redes de Desenvolvimento da Maré, que é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), dedicada a articular pessoas e instituições para realizar projetos de desenvolvimento para a Maré, um dos maiores bairros populares do Rio de Janeiro.

Foram aplicados 67questionários com adolescentes moradores do Complexo da Maré
com idade entre 13 e 18 anos, sendo 30 do sexo masculino e 37 do sexo feminino .

As informações e resultados obtidos serão apresentados abaixo:

Faixa Etária:

13 anos – 04 adolescentes
14 anos – 38 adolescentes
15 anos – 22 adolescentes
16 anos – 02 adolescentes
18 anos – 01 adolescente

Renda Familiar:

Até 1 SM – 34,3%
De 1 a 2 SM – 47,7%
Acima de 2SM – 14,9%
Não responderam – 2,9%

Produtos mais consumidos (nessa questão pode-se assinalar mais de uma resposta)

Roupas – 83,5%
Tênis/ Calçados – 47,7%
Livros – 23,8%
Acessórios – 16,4%
Comida – 14,9%
CD’s/ DVD’s – 11,9%
Revistas – 10,4%
Celular – 7,4%
Jogos de videogame e PC – 7,4%
Maquiagem – 7,4%
Outros – 4,4%

Como podemos ver, os produtos mais consumidos relacionam-se a artigos da vestimentária, como roupas, tênis e calçados, mostrando a importância que estes adolescentes dão a imagem que estão produzindo para o outro, ou seja, a sua aparência.
Entendendo a juventude como um processo de formação de sua identidade, calcado na proximidade com o semelhante, busca-se a todo momento, por parte deste indivíduo, o reconhecimento pessoal e social a partir do olhar positivo do outro sobre ele. Caso contrário, este se sentirá isolado e estigmatizado.
E uma parcela significativa gasta seu dinheiro em livros. Percebe-se uma maior preocupação destes jovens com estudo e o seu capital cultural, possibilitando maior acesso às inovações e maior mobilidade entre diferentes projetos que se apresentam num mundo cada vez mais complexo e instável.

Preferência por marcas (Sim ou Não):

Sim – 39%
Não – 41%

Nessa questão, parte significativa dos adolescentes responderam que não tinha preferência por marca, porém acabaram citando algumas marcas.

Marcas mais citadas:
Nike, Adidas, Puma, Billabong, Lacoste, Quebra-Vento, HBS, Aldeia dos Ventos, Playstation, Rainha, Olympikus, etc

Marcas que não condizem com o seu poder aquisitivo, referente a renda familiar respondida anteriormente.

Motivos para preferência por marcas, ou seja, aqueles que responderam ter preferência por marcas (nesta questão pode-se assinalar mais de uma resposta):

“Porque as roupas tem melhor qualidade” – 62,85%
“ Porque eu fico mais bonito(a)” – 20%
“ Porque as garotas ou garotos olham mais” – 11,4%
“Porque são as mais usadas” – 5,7%

Fatores que influenciam na compra da roupa (nesta questão pode-se assinalar mais de uma resposta):

Gosto – 85%
Estilo – 70,1%
Marca – 23,8%
“Aquela que está na moda” ou nos comerciais e propagandas – 11,9%
O tipo de roupa que os amigos costumam usar – 5,9%
Outros – 7,4% ( Cores e preço da roupa e “aquela que modela o corpo”)

Se assistem TV e quais programas:

Sim – 94%
Não – 6%

Programas citados dentre os que assistem televisão:

Jornal/ Noticiários/ Documentários – 47,6%
Programas de humor – 44,4%
Filmes – 38%
Novelas/ Minisséries – 30,1%
Desenhos – 28,5%
Seriados – 23,8%
Programas de entretenimento – 11,1%
Programas esportivos – 11,1%
Reality Show – 4,7%
Outros – 4,7% (Shows, Programas Educativos e musicais)

Como mostra os dados, quase todos adolescentes assistem televisão. Segundo Nunes (2007), a mídia e os meios de comunicação exercem forte influência na valorização de espaços de consumo e entretenimento da classe média, como os shopping centers, reforçando estilos e padrões de vidas a serem seguidos, como é o exemplo de novelas e seriados que são um dos programas mais vistos pelos adolescentes segundo os dados (Ex: Malhação).

Comerciais que chamam atenção para alguma marca ou estilo:
Sim – 43,3%
Não – 56,7%

Comercias citados dentro os que responderam sim:
Coca-cola, C&A, Personal (Papel Higiênico), Melissa, etc.

Meios de acesso ao dinheiro, ou seja, como consegue dinheiro quando quer comprar algo (nesta questão pode-se assinalar mais de uma resposta):

Pede a alguém da família – 85%
Faz um bico/ biscate (trabalho informal) – 11,9%
Trabalha ou faz estágio – 7,4%
Recebe mesada – 2,9%
Pede emprestado – 1,4%
Vende algo usado – 1,4%

Em se tratando de um segmento da sociedade que ainda não está inserido no mercado de trabalho e até mesmo pela condição socioeconômica de sua família (menor poder aquisitivo), surgem limites no acesso ao consumo e à própria expressão de gostos e estéticas. Dessa forma, buscam formas e estratégias, muitas vezes imediatas para viabilizar tal acesso.

Aceitação na comunidade relacionada ao consumo de determinados produtos:

Sim – 38,8%
Não - 61,2%

Motivos alegados para não aceitação ( mesmo sem ter sido perguntando):

“Com certeza, por exemplo, comendo biscoito Fofura, eu me sinto humilhada, já com o Trakinas, me sinto melhor e mais entrosada”

“ Por estar com uma roupa que não estava na moda, por estar com um penteado que não era o ‘da hora’”.

Discriminação por conta da aparência ou estilo:

Sim- 26,9%
Não – 73,1%
Nota-se que grande parte dos adolescentes disse não ter sofrido discriminação. Em relação a esse dado, podemos perceber, sem generalizações, um movimento de afirmação em relação a sua aparência ou estilo, reforçando sua identidade territorial atráves de códigos de sociabilidade.
Motivos alegados para a discriminação (aquele que responderam sim):

“ Quando usei aparelho de coluna”
“Por não estar no lugar certo e a hora certa”
“Por não estar com a roupa da moda”
“Porque sou Playboy”
“Porque me acham diferente, com estilo estranho”
“Porque tenho uns quilinhos a mais”
“ Porque uso preto, roxo, vermelho e gosto de rock”
“ Por causa da minha cor”
“ Por que moro em comunidade carente e têm pessoas que acham quero me sentir riquinho”.

Ao mesmo tempo que estes adolescentes não se vêem (auto-imagem) nas vitrines das lojas, nas propagandas, comerciais e nos seriados e novelas da TV, são vistos nos jornais e noticiários como “classes perigosas” por conta do seu meio social de origem. Dessa forma buscam se diferenciar deste meio, tentando adaptar-se à moda vestimentária e estética ditada pela mídia.

E essa não aceitação não diz respeito somente a sociedade como um todo, mas também se relaciona ao círculo de amizades, que acaba gerando gostos e estilos padronizados, como forma de estar se inserindo num universo próprio, diferenciando-os das gerações anteriores.

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